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O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade segundo o DSM-5

O transtorno de déficit de atenção-hiperatividade segundo o DSM-5

TDAH é um transtorno com sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade, afetando o funcionamento diário.


O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere diretamente no funcionamento e no desenvolvimento do indivíduo.

Essa definição, segundo o DSM-5, aponta para um conjunto de sintomas que se manifestam com intensidade acima do esperado para a etapa de desenvolvimento em que a pessoa se encontra, gerando prejuízos em múltiplos ambientes, como contexto acadêmico, social, profissional e familiar.

Para entendermos o TDAH, é importante sublinhar que não se trata de “falta de disciplina”, “preguiça” ou “falta de força de vontade”. Embora tais estigmas sejam populares, o TDAH decorre de um conjunto de fatores neurobiológicos e genéticos que afetam a capacidade de autorregulação, sobretudo em termos de atenção, controle inibitório e regulação da atividade motora.

O DSM-5 descreve três apresentações principais do TDAH:

  1. Apresentação predominantemente desatenta – marcada, sobretudo, pela dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades, descuido frequente, esquecimento e dificuldades de organização;
  2. Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva – definida principalmente por inquietação, dificuldade para permanecer parado, impulsividade em ações e dificuldade de esperar a sua vez.
  3. Apresentação combinada – caracterizada pela junção de sintomas de desatenção e hiperatividade-impulsividade em níveis clinicamente significativos.

Para se estabelecer o diagnóstico, o DSM-5 requer que os sintomas se manifestem antes dos 12 anos de idade. Além disso, é fundamental que estejam presentes em pelo menos dois contextos distintos (por exemplo, em casa e na escola), que gerem prejuízos claros no funcionamento do indivíduo e que não sejam mais bem explicados por outro transtorno mental ou condição de saúde.

O TDAH não é um “transtorno da moda”. Há registros na literatura médica há décadas, embora as nomenclaturas e compreensões tenham evoluído. A história oficial passa pela denominação de “Defeito de controle moral” no século XIX, depois “Reação hipercinética da infância” nos manuais anteriores, até chegar ao TDAH como o conhecemos hoje.

Cada vez mais, a neurociência embasa esses conceitos, reforçando que o TDAH envolve diferenças na forma como o cérebro regula funções executivas, atenção e impulsividade.


Quais os sintomas mais comuns do TDAH?

De acordo com o DSM-5, os sintomas do TDAH podem ser divididos em duas grandes categorias: desatenção e hiperatividade-impulsividade. Abaixo, listo alguns dos sinais mais característicos de cada categoria.

Sintomas de desatenção

  • Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido em tarefas escolares, de trabalho ou outras atividades;
  • Dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, como jogos que exijam foco prolongado;
  • Aparência de “não estar ouvindo” quando se fala diretamente com a pessoa; por vezes, a mente divaga;
  • Dificuldade em seguir instruções e finalizar trabalhos escolares ou obrigações profissionais (frequentemente interrompem ou perdem o fio da meada);
  • Problemas em organizar tarefas e atividades, como gerenciar materiais, planejar etapas de um projeto e manter cronogramas;
  • Tendência a evitar ou desgostar de tarefas que exijam esforço mental prolongado (p. ex., trabalhos escritos, relatórios, atividades de leitura prolongada);
  • Perda frequente de objetos necessários para tarefas ou atividades (canetas, livros, chaves, documentos, celular);
  • Distração fácil por estímulos irrelevantes (ruídos, estímulos visuais, conversas de outras pessoas);
  • Esquecimento em atividades cotidianas, como pagar contas, responder e-mails ou compromissos agendados.

Sintomas de hiperatividade e impulsividade

  • Inquietação motora, como mexer as mãos ou pés, ficar se remexendo na cadeira ou balançar as pernas continuamente;
  • Abandono frequente da cadeira em situações em que se esperaria que a pessoa permanecesse sentada (sala de aula, reuniões, cinema);
  • Correria ou escaladas em situações inapropriadas (mais comum em crianças; em adolescentes e adultos se manifesta apenas como sensação subjetiva de inquietude intensa);
  • Dificuldade em envolver-se silenciosamente em atividades de lazer; frequentemente “estão sempre a mil”;
  • Fala em excesso, dificuldade para ficar em silêncio ou aguardar a vez de falar;
  • Respostas precipitadas antes de a pergunta ter sido concluída, interrupção frequente de conversas ou atividades de outras pessoas;
  • Dificuldade para esperar a vez, seja em fila, seja em interações sociais (p. ex., em jogos);
  • Tendência a se envolver em atividades potencialmente perigosas sem considerar as consequências (impulsividade motora ou comportamental).

É comum que cada pessoa apresente um perfil de sintomas que pode variar de acordo com o contexto, nível de estresse e demandas do ambiente. As apresentações mais leves podem passar despercebidas por parte dos familiares e educadores, enquanto os quadros mais graves tornam-se evidentes desde a primeira infância.


Prevalência e demografia

Segundo o DSM-5, o TDAH afeta cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos em nível global. Ele também se manifesta em diferentes faixas etárias, com sintomas que podem persistir até a vida adulta, embora sua expressão clínica varie ao longo do desenvolvimento. O diagnóstico exige presença dos sintomas em múltiplos contextos e início antes dos 12 anos de idade.

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Diferença de gênero nos diagnósticos

Estudos sugerem que o TDAH é mais frequentemente diagnosticado em meninos do que em meninas, especialmente na infância, numa proporção que varia de 2:1 até 3:1.

No entanto, há evidências crescentes de que o TDAH em meninas pode frequentemente passar despercebido, pois elas tendem a exibir menos sintomas de hiperatividade/impulsividade e mais sintomas de desatenção, ou ainda manifestações que não chamam tanto a atenção do contexto escolar ou familiar.

Em alguns casos, meninas e mulheres com TDAH mostram sinais mais sutis, como dificuldades de organização, esquecimentos frequentes, desatenção a detalhes e maior vulnerabilidade emocional.

A disparidade nos diagnósticos pode levar a um subtratamento da população feminina e a uma maior chance de complicações, como baixa autoestima, problemas acadêmicos tardios e maior risco de comorbidades na idade adulta.

Impacto em diferentes grupos etários e populações

O TDAH não é uma “condição infantil” exclusiva. Embora se manifeste, na maior parte dos casos, ainda na infância, os sintomas podem persistir na adolescência e na idade adulta.

Atualmente, reconhece-se que boa parte das crianças com TDAH continua apresentando sintomas na vida adulta, mesmo que com intensidade variável.

Crianças em idade pré-escolar podem mostrar agitação excessiva, dificuldade para engajar em brincadeiras calmas, incapacidade de seguir rotinas e tendência à impulsividade. Entretanto, o diagnóstico nessa faixa etária exige cuidados: crianças pequenas são, por natureza, mais ativas e com capacidade de atenção limitada. O psicoterapeuta precisa diferenciar o que é esperado do desenvolvimento infantil do que extrapola esse limite.

Adolescentes com TDAH frequentemente apresentam dificuldades em concluir deveres de casa, maior desorganização, esquecimento de prazos e materiais, além de comportamentos de risco, como dirigir em alta velocidade ou envolver-se em brigas.

Adultos podem exibir sintomas como dificuldade de planejamento no trabalho, esquecimento de reuniões, impulsividade em tomadas de decisão financeira e dificuldade de manter relacionamentos estáveis. Muitos se reconhecem como “instáveis” ou “desorganizados” e só buscam ajuda quando as consequências (como multas por atrasos, problemas conjugais ou baixo desempenho no emprego) se tornam mais graves.

Em termos de diferenças culturais e socioeconômicas, o TDAH é diagnosticado em diferentes partes do mundo, embora as taxas variem de acordo com critérios utilizados, acesso a serviços de saúde mental e fatores culturais na percepção do comportamento infantil.

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Também existem debates sobre subdiagnóstico em regiões ou populações com menor acesso a profissionais especializados, e sobrediagnóstico em outras partes, onde há maior vigilância e preocupação parental/escolar em relação ao desempenho acadêmico.


Comorbidades

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade raramente ocorre isoladamente. O DSM-5 reconhece que é comum a presença de transtornos comórbidos, que podem tanto mascarar os sintomas do TDAH quanto agravá-los. A seguir, são descritas algumas das comorbidades mais frequentes, com explicações sobre cada transtorno e sua relação com o TDAH:

Transtornos de ansiedade

Os transtornos de ansiedade incluem quadros como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobias específicas, transtorno de pânico e ansiedade social. Esses transtornos se caracterizam por preocupação excessiva, tensão muscular, inquietação, e dificuldade de relaxamento.

Pessoas com TDAH podem apresentar sintomas de ansiedade devido às constantes frustrações e críticas por comportamentos desatentos ou impulsivos. Além disso, a ansiedade agrava a dificuldade de concentração, confundindo o diagnóstico.

É fundamental diferenciar o que é desatenção decorrente do TDAH e o que é falta de foco causada por pensamentos ansiosos.

Transtornos de humor

Os transtornos de humor mais comuns comórbidos ao TDAH são a depressão maior e o transtorno bipolar. A depressão envolve humor deprimido persistente, perda de interesse e sentimentos de inutilidade. O transtorno bipolar alterna episódios de euforia (mania) e depressão.

A impulsividade do TDAH se assemelha à agitação da mania, e a frustração contínua com os próprios erros leva à depressão. Em casos de bipolaridade, o diagnóstico diferencial com o TDAH é desafiador, já que ambos envolvem impulsividade, agitação e desatenção em momentos distintos.

Transtorno desafiador opositivo (TDO)

O TDO é caracterizado por um padrão de comportamento negativista, hostil e desobediente, geralmente direcionado a figuras de autoridade. A criança ou adolescente frequentemente desafia regras, se irrita facilmente e culpa os outros por seus erros.

É comum que crianças com TDAH desenvolvam TDO como reação a anos de frustrações, punições e dificuldades escolares. A impulsividade contribui para reações explosivas e a dificuldade de seguir instruções pode ser interpretada como desobediência proposital, quando na verdade é sintoma do TDAH.

Transtorno de conduta

O transtorno de conduta envolve comportamentos agressivos, violação de normas sociais e direitos alheios, como mentir, roubar, agredir ou destruir propriedade.

Quando combinado com TDAH, principalmente em apresentações com impulsividade intensa, há maior risco de comportamentos externalizantes graves. A presença de TDAH aumenta o risco de progressão do TDO para o transtorno de conduta, especialmente quando não há intervenções precoces.

Transtornos do espectro do autismo (TEA)

Os TEAs envolvem déficits na comunicação social, interesses restritos e comportamentos repetitivos. Pessoas com autismo apresentam rigidez cognitiva, sensibilidade sensorial e dificuldade em interações sociais.

Apesar de serem diagnósticos distintos, há sobreposição significativa de sintomas, como desatenção, hiperfoco e dificuldades sociais. Muitos indivíduos com TEA também atendem aos critérios de TDAH. O DSM-5 permite o diagnóstico conjunto, algo que versões anteriores não contemplavam.

Transtornos específicos da aprendizagem

Esses transtornos afetam habilidades acadêmicas como leitura (dislexia), escrita (disgrafia) ou matemática (discalculia), mesmo com inteligência e oportunidades educacionais adequadas.

Tanto a desatenção quanto as dificuldades cognitivas prejudicam o desempenho escolar, tornando difícil distinguir se o baixo rendimento é devido à falta de foco, a um transtorno de aprendizagem, ou ambos. A coexistência dos dois quadros potencializa o prejuízo acadêmico.

Transtornos do uso de substâncias

Incluem o uso problemático de álcool, nicotina, maconha e outras drogas, que levam à dependência e afetar várias áreas da vida.

Adolescentes e adultos com TDAH têm maior risco de desenvolver transtornos por uso de substâncias, especialmente como tentativa de automedicação da impulsividade ou da inquietação. O início precoce do uso de drogas também está relacionado à busca de estimulação imediata e à dificuldade em considerar consequências futuras.

Transtornos do sono

Problemas como insônia, dificuldade de iniciar ou manter o sono, sono fragmentado e sonolência diurna excessiva são comuns.

A hiperatividade mental e motora interfere no início do sono. O sono de má qualidade, por sua vez, piora a atenção e o humor no dia seguinte, exacerbando os sintomas do TDAH. É uma via de mão dupla: um agrava o outro.

Transtornos de tique e síndrome de tourette

Esses transtornos envolvem movimentos ou vocalizações repetitivos e involuntários. A Síndrome de Tourette é caracterizada pela presença de tiques motores e vocais.

Crianças com TDAH têm maior probabilidade de apresentar tiques, e o uso de medicamentos estimulantes pode, em alguns casos, aumentar sua frequência (embora isso nem sempre ocorra). A coexistência exige cuidados específicos no tratamento medicamentoso.

Transtorno de personalidade borderline

O transtorno borderline é marcado por instabilidade emocional, impulsividade, relacionamentos intensos e temor de abandono.

A impulsividade presente em ambos leva à confusão diagnóstica. Alguns autores consideram que o TDAH mal tratado na infância pode evoluir para sintomas compatíveis com transtorno de personalidade na vida adulta, embora sejam quadros distintos com critérios próprios.


Prognóstico

O prognóstico do TDAH varia de acordo com fatores genéticos, ambientais, de personalidade e, principalmente, pela disponibilidade de tratamento adequado. Em linhas gerais, quanto mais cedo o diagnóstico e a intervenção, melhor tende a ser a evolução, pois a pessoa tem a oportunidade de aprender estratégias de manejo desde cedo.

Curso natural

O TDAH, em muitos casos, vai apresentando mudanças na forma de manifestação dos sintomas ao longo do tempo. Por exemplo, é comum que a hiperatividade motora intensa da infância dê lugar a uma “agitação interna” mais subjetiva na adolescência ou vida adulta.

O quadro de desatenção, no entanto, tende a permanecer em intensidade significativa, influenciando a execução de tarefas e o rendimento escolar/profissional. Sem tratamento, indivíduos com TDAH podem apresentar, ao longo da vida:

  • Problemas acadêmicos (repetência, abandono escolar);
  • Dificuldades de relacionamento (conflitos familiares, dificuldade em manter amizades) e;
  • Problemas de saúde mental (ansiedade, depressão).

Também há, em alguns casos, maior risco de comportamentos perigosos (dirigir em alta velocidade, uso de substâncias, comportamentos impulsivos no trabalho).

Taxas de remissão

Segundo pesquisas, uma parte considerável das crianças com TDAH apresenta remissão total ou parcial dos sintomas na vida adulta. As estimativas variam, mas aponta-se que entre 30% e 60% dos casos na infância podem continuar manifestando sintomas significativos na fase adulta.

O DSM-5 sugere cautela na avaliação desse dado, pois a “remissão” significa que os sintomas estão menos intensos ou não causam mais prejuízos funcionais importantes, e não necessariamente que desapareceram completamente.

Ainda assim, mesmo quando não há “remissão” completa, muitos adultos desenvolvem estratégias de enfrentamento que permitem compensar ou minimizar o impacto negativo dos sintomas, seja por meio de intervenções terapêuticas, seja pela escolha de ambientes e rotinas que se adequam melhor ao seu perfil.

Fatores que influenciam o prognóstico

  • Grau de suporte familiar: Famílias que reconhecem as dificuldades do indivíduo e estabelecem rotinas, estratégias de organização e limites claros podem ajudar na melhora;
  • Presença de comorbidades: Se existem outros transtornos associados (depressão, ansiedade, dependência química, etc.), o prognóstico pode ser mais complicado e exigir tratamento integrado;
  • Nível socioeconômico: Acesso a serviços de saúde mental de qualidade, psicoterapias e medicação pode favorecer o prognóstico;
  • Estratégias de enfrentamento (coping): O desenvolvimento de boas práticas de autorregulação, como planejamento, agendas e apoio psicoterapêutico, melhora o funcionamento ao longo da vida;
  • Adequação ocupacional e escolar: Escolher ambientes de trabalho e estudo que respeitem as peculiaridades do TDAH pode reduzir conflitos e frustrações, melhorando a produtividade e a autoestima;
  • Aderência ao tratamento: Interromper medicação ou sessões de terapia precocemente, sem orientação, pode levar a recaídas ou à falta de progressos consistentes.

Diferenciação de outros transtornos

Diferentes condições exibem sintomas que se confundem ou se sobrepõem aos do TDAH. Por isso, é vital realizar uma avaliação diagnóstica criteriosa. Alguns exemplos de transtornos que podem fazer parte do diagnóstico diferencial incluem:

  • Transtornos de Ansiedade: É comum que a ansiedade leve à dificuldade de concentração. Entretanto, no TDAH, a dificuldade de foco aparece em situações variadas e não apenas quando a pessoa está ansiosa ou preocupada;
  • Transtorno de humor (depressão, bipolar): Baixo interesse e concentração podem surgir num quadro depressivo, porém, neste, há outros sinais (humor deprimido, anedonia, culpa, etc.) que diferem do padrão do TDAH;
  • Transtornos de aprendizagem: Podem causar baixo desempenho escolar, mas não costumam explicar a impulsividade ou hiperatividade motora;
  • Transtorno do espectro autista: Alguns quadros de autismo de alto funcionamento podem ser confundidos com TDAH, pois a criança pode parecer “desatenta”. Todavia, há diferenças marcantes, sobretudo na comunicação social e interesses restritos;
  • Problemas de audição ou visão: Se a criança não enxerga bem ou não escuta adequadamente, pode apresentar dificuldade para acompanhar a aula, levando a equívocos na interpretação de desatenção;
  • Fatores ambientais e situações transitórias: Mudanças familiares (divórcio, luto, mudança de cidade), bullying ou estresse intenso podem gerar “desatenção” temporária ou comportamentos impulsivos.

Em síntese, a avaliação cuidadosa de cada caso, considerando histórico clínico, testes padronizados e observações em diferentes ambientes, é fundamental para que não haja diagnósticos incorretos ou a negligência de transtornos adicionais.


O TDAH tem cura?

A pergunta “o TDAH tem cura?” costuma gerar discussões e, em parte, reflete uma busca de muitos pais e pacientes por uma solução definitiva. Tecnicamente, não se costuma falar em “cura” para o TDAH, mas sim em controle, melhora dos sintomas e adaptação.

Em muitos casos, os sintomas diminuem consideravelmente ao longo da vida, porém, na maioria, ainda existe um resquício de desatenção ou de impulsividade que acompanha o indivíduo, embora nem sempre em grau grave.

Prognóstico e possibilidade de recuperação

A intensidade do TDAH pode variar:

  1. Algumas pessoas conseguem se adaptar a ponto de os sintomas não serem mais notados no dia a dia, caracterizando a remissão;
  2. Outras, a apresentação combinada (desatenção + hiperatividade/impulsividade) se transforma em algo mais centrado na desatenção ou na impulsividade em períodos diferentes da vida, exigindo ajustes no tratamento e mudanças de estilo de vida.

É importante salientar que, mesmo quando não há remissão completa, a sintomatologia pode ser bem manejada. Isso significa que a pessoa aprende a lidar com suas vulnerabilidades e potencializa seus pontos fortes, reduzindo os efeitos negativos na rotina.

Tratamento e abordagens psicoterapêuticas

O tratamento do TDAH costuma combinar medicação e intervenções psicossociais. Entre as medicações, os estimulantes (p. ex., metilfenidato, lisdexanfetamina) costumam ser primeira linha; entretanto, há casos em que outras classes de fármacos são utilizadas. No campo das psicoterapias:

  1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a pessoa a identificar padrões de pensamento disfuncionais e a desenvolver habilidades de planejamento, organização e regulação emocional;
  2. Psicoeducação: É fundamental que a pessoa com TDAH entenda a natureza de seus sintomas, aprenda estratégias de manejo, bem como familiares e educadores saibam lidar com desafios do dia a dia;
  3. Treino de habilidades sociais: Em casos em que a impulsividade ou a hiperatividade prejudiquem as relações interpessoais, esse treino pode auxiliar no desenvolvimento da empatia, na compreensão de regras sociais e no controle dos impulsos;
  4. Neurofeedback: Embora ainda seja considerada uma estratégia complementar, algumas pessoas relatam benefícios no controle da atenção e redução da impulsividade;
  5. Coaching para TDAH: Profissionais especializados podem ajudar o indivíduo a organizar rotinas, estabelecer metas e desenvolver estratégias de estudo ou trabalho.

O tratamento psicoterapêutico também foca em dificuldades emocionais, como autoestima prejudicada ou frustrações acumuladas por anos de baixo desempenho escolar ou conflitos familiares. Uma boa aliança terapêutica, seja com psicoterapeuta, psiquiatra ou psicopedagogo, faz toda a diferença.

Fatores que influenciam a melhora

  • Aderência ao tratamento medicamentoso: Manter as doses e horários conforme prescrição, evitando automedicação ou interrupções bruscas.
  • Engajamento nas intervenções psicoterapêuticas: Adotar ativamente estratégias de organização (uso de agendas, aplicativos de lembrete, quadros de tarefas), participar de sessões de TCC ou coaching.
  • Ambiente familiar estruturado: Com regras claras, rotinas estáveis, mas também com compreensão e suporte emocional.
  • Participação escolar: Professores e orientadores podem colaborar com adaptações pedagógicas (tempo extra em provas, uso de recursos visuais, estímulos mais frequentes).
  • Abordagem multidisciplinar: Contar com psiquiatra, psicólogo, psicopedagogo e professores ou orientadores, se necessário.
  • Hábitos de vida saudáveis: Rotina de sono adequada, prática regular de exercícios físicos, dieta balanceada e redução de estímulos eletrônicos excessivos podem complementar o tratamento.

O TDAH é causado por fatores genéticos ou ambientais?

As causas do TDAH são complexas e multifatoriais, envolvendo tanto aspectos genéticos quanto ambientais. Estudos com gêmeos e famílias apontam para uma forte hereditariedade do TDAH; estima-se que a herdabilidade possa variar entre 60% e 90%.

Genes relacionados a neurotransmissores como dopamina e noradrenalina podem estar envolvidos, embora não se possa dizer que exista “um gene do TDAH” específico.

Por outro lado, fatores ambientais também desempenham papel relevante. Entre eles, podemos citar:

  • Exposição a substâncias tóxicas durante a gravidez (álcool, tabaco, alguns contaminantes ambientais).
  • Prematuridade, baixo peso ao nascer ou complicações obstétricas.
  • Ambientes familiares caóticos, exposição precoce a eventos traumáticos ou altos níveis de estresse.
  • Deficiências nutricionais em períodos críticos do desenvolvimento.

O modelo mais aceito hoje é o de interação gene-ambiente, no qual predisposições genéticas aumentam a vulnerabilidade a influências ambientais. Ou, de outro modo, um ambiente favorável pode minimizar o impacto de uma predisposição genética, enquanto um ambiente desfavorável pode exacerbar os sintomas.


Como ajudar alguém com TDAH?

Ajudar alguém com TDAH requer paciência, empatia e estratégias práticas. Seja você um familiar, um amigo, um professor ou um colega de trabalho, algumas atitudes podem fazer a diferença:

  1. Ofereça compreensão, não crítica: Evite frases como “Você não se esforça” ou “Você é preguiçoso”. Reconheça que o TDAH implica em limitações específicas que não se resolvem “na marra”;
  2. Estimule a procura de ajuda profissional: Psicoterapeuta e psiquiatra sabem avaliar o quadro e propor intervenções adequadas, seja medicamentosa, psicoterapêutica ou ambas;
  3. Adapte o ambiente: Em contextos de estudo ou trabalho, reduza distrações. Auxilie na organização de materiais e rotinas, e dê feedbacks diretos e objetivos;
  4. Estimule o uso de ferramentas de organização: Aplicativos de agenda, lembretes no celular, listas de tarefas escritas ajudam a gerenciar prazos e compromissos;
  5. Ajude a estabelecer metas realistas: Dividir tarefas grandes em etapas menores, celebrar cada conquista ao invés de apenas focar nos erros;
  6. Pratique a escuta ativa: Em diálogos, procure checar se a pessoa entendeu o que foi dito. Repita instruções se necessário, de maneira clara e sem julgamento;
  7. Valorize as qualidades: Pessoas com TDAH também costumam ter pontos fortes, como criatividade, espontaneidade e entusiasmo. Reconhecê-los ajuda na autoestima e no engajamento;
  8. Respeite pausas: Longos períodos de concentração são exaustivos para quem tem TDAH. Pausas curtas melhoram o desempenho e reduzem a frustração;
  9. Evite rótulos pejorativos: Comentários negativos constantes só aumentam o estresse e a ansiedade, piorando o quadro.
  10. Mantenha uma comunicação clara: Mensagens confusas ou muito extensas disperam ainda mais a atenção de quem tem TDAH.

Ao prestar ajuda de forma consistente, com empatia e conhecimento, é possível criar um ambiente mais favorável para o desenvolvimento, aprendizado e bem-estar de quem lida com o TDAH.


Palavras finais

O TDAH, segundo o DSM-5, é um transtorno complexo que abrange sintomas de desatenção e hiperatividade-impulsividade, causando impacto significativo na vida de crianças, adolescentes e adultos em diferentes contextos.

Sua etiologia envolve fatores genéticos robustos, mas também sofre influência de questões ambientais e psicosociais. O diagnóstico correto, diferenciado de outras condições e baseado em critérios clínicos bem estabelecidos, é essencial para garantir intervenções eficazes.

Falar em “cura” para TDAH não é tecnicamente adequado, pois os sintomas podem persistir em graus variáveis ao longo da vida. Contudo, com um tratamento abrangente, que inclua psicoeducação, medicação, terapia cognitivo-comportamental e apoio familiar/escolar, as perspectivas de um bom funcionamento global são bastante animadoras.

Muitos pacientes levam vidas plenas e produtivas, utilizando estratégias de organização, gerenciamento do tempo e desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.

Por fim, ressaltar a importância do apoio é fundamental: familiares, educadores, colegas de trabalho e profissionais de saúde mental podem, juntos, fornecer o suporte necessário para que as pessoas com TDAH desenvolvam seu potencial, superando barreiras e minimizando prejuízos.

Compreender, acolher e intervir de forma sistemática, ainda que com pitadas de humor, pode fazer toda a diferença na vida de quem enfrenta este desafio.


Referências

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Artmed, 2014.

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