Você sente que algo está profundamente errado no seu casamento, mas não consegue apontar exatamente o quê? Já se pegou perguntando se o problema está em você ou se seu parceiro realmente está te manipulando? É possível que por trás de um comportamento aparentemente normal e atencioso se esconda um narcisista oculto no casamento.
Muitos homens e mulheres vivem relacionamentos abusivos sem perceber de imediato. Mas como ter certeza? Como identificar os traços narcisistas sutis de um cônjuge que manipula de forma passiva?
Como saber se você está casado com um narcisista oculto?
Essa é uma pergunta difícil, e é comum quem vive com um abusador sutil duvidar das próprias percepções. Um narcisista oculto no casamento é aquele parceiro que à primeira vista não parece egocêntrico ou agressivo como o narcisista típico (explícito).
Pelo contrário, ele se mostra humilde, inseguro ou gentil para os outros. Porém, por trás dessa fachada, é um cônjuge com vaidade camuflada – ou seja, tem uma necessidade oculta de se sentir superior, controlar e receber admiração, só que de forma indireta e manipuladora.
Como psicoterapeuta, já atendi muitos casais em que um dos parceiros era um marido narcisista oculto ou uma esposa com traços narcisistas. Essas pessoas raramente se veem como o problema. Elas podem até aparentar timidez ou vulnerabilidade, mas sutilmente fazem o outro se sentir culpado, insuficiente ou confuso.
De acordo com o DSM, o transtorno de personalidade narcisista envolve padrões de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. No caso do narcisista oculto, esses padrões existem, mas disfarçados. Ao invés de se gabar abertamente, ele busca admiração através de elogios indiretos ou fazendo papel de vítima para que você o console e reafirme o quanto ele é bom.
Observe como você se sente nesse relacionamento. Você se sente constantemente pisando em ovos para não desagradar? Precisa sempre medir as palavras com medo da reação do parceiro? Percebe que, de maneira sutil, suas opiniões são desconsideradas ou que suas conquistas nunca são celebradas de verdade?
Por exemplo, imagine um casal fictício: Maria e João. Maria conta toda empolgada ao marido que recebeu uma promoção no trabalho. João, um marido narcisista oculto, sorri e diz calmamente: “Que bom, amor. Sabia que isso só aconteceu porque eu te incentivei a pegar aquele projeto extra, não é? Mas parabéns, você até que se esforçou.” Maria fica sem graça. Ela deveria estar feliz, mas se sente ingrata e culpada, como se precisasse agradecer João pelo seu próprio mérito. Percebe como João fez uma suposta “gentileza” virar crédito para ele? Situações assim são sinais de alerta.
Em resumo, se você está sempre confuso sobre quem está certo, se pede desculpas por coisas que nem culpa tinha, ou se sente que sua autoestima está cada vez menor no casamento, vale a pena considerar: talvez você esteja vivendo com um abusador psicológico disfarçado.
Quais são os sinais mais sutis de um narcisista oculto?
Alguns sinais de um narcisista oculto podem passar despercebidos exatamente por não serem tão explícitos. Ao contrário do narcisista clássico, que é fácil de identificar pela arrogância escancarada, o manipulador passivo no casamento age nas entrelinhas, minando a confiança do parceiro aos poucos. Veja alguns dos sinais mais sutis e comportamentos típicos:
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Falsa humildade e vitimismo
O cônjuge narcisista oculto muitas vezes se faz de humilde ou inferior, só para receber elogios. Ele diz coisas como “Eu não sou bom o bastante” esperando que você o contradiga e exalte suas qualidades. Além disso, adora assumir o papel de vítima.
Se você traz uma queixa, ele inverte e diz que ele está magoado, fazendo você se sentir culpado por supostamente feri-lo. É uma forma sutil de manipular sua empatia e desviar o foco do problema real.
Sensibilidade extrema à crítica
Uma pessoa com traços narcisistas sutis não aguenta ser criticada. Qualquer feedback vira ofensa pessoal. Você percebe que não pode apontar nem um erro sem que o parceiro reaja mal, fique ofendido ou comece a te atacar de volta?
Muitas vezes ele interpreta observações neutras como insultos graves. Essa hipersensibilidade geralmente vem acompanhada de agressividade passiva – o parceiro pode não gritar, mas te pune de outras formas, como te ignorar ou fazer aquele “cara fechada” por dias.
Comporta-se de forma diferente em público e em casa
Um narcisista oculto costuma ser encantador com amigos, familiares e até psicoterapeutas. Ele mostra sua melhor face para os outros, o que faz você duvidar de si mesmo: “Poxa, todo mundo acha ele tão legal, será que o problema sou eu?” Mas em casa, a história é outra.
Em particular, ele te menospreza em pequenos comentários, revira os olhos quando você fala, ou ignora suas necessidades. Essa dupla face é um dos sinais sutis: você sente que só você enxerga o “lado obscuro” dele.
Empatia superficial
Ele até parece se importar com você às vezes, mas é algo sem profundidade. Por exemplo, quando você está doente ou triste, ele faz o básico (como pegar um remédio ou perguntar o que houve), mas logo traz o assunto de volta para si ou minimiza o que você sente.
Essa falta de empatia genuína é característica de um cônjuge com vaidade camuflada: por fora atencioso, por dentro completamente centrado nele mesmo.
Controle disfarçado de cuidado
Um narcisista oculto adora controlar, mas faz isso de um jeito que parece preocupação. Ele insiste para você tomar determinadas decisões “pelo seu próprio bem”.
Ele sutilmente escolhe suas roupas (“Ah, você fica tão melhor usando tal coisa…”), opina em todas as suas escolhas e até determina com quem você deve ou não se relacionar, mas sempre com a desculpa de que é cuidado ou proteção. No fundo, é controle sobre você e sobre a relação.
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Oscilações entre afeto e frieza
Ele é muito carinhoso e elogioso em alguns momentos, e de repente se torna frio, distante ou irritado sem explicação clara. Essas mudanças de humor e tratamento causam confusão. Muitas vezes, essa estratégia de “dar e retirar” afeto é usada para te desestabilizar e te deixar sempre buscando voltar à fase boa.
É um ciclo viciante: depois de um período ruim, quando você pensa em desistir, ele melhora e te trata bem, fazendo você acreditar que as coisas mudaram (até repetir o ciclo novamente).
Sabotagem sutil de sua autoestima
Preste atenção em pequenos comentários. Ele faz piadas depreciativas sobre você na frente dos outros e depois diz “estou brincando”? Ou te compara, delicadamente, com outras pessoas para você “melhorar”?
Por exemplo: “Nossa, a casa da fulana está sempre tão arrumada… eu entendo que você é ocupada, amor”. Esses recados, ditos num tom de “não é crítica”, vão aos poucos minando sua confiança em si mesmo.
Isolamento gradual
Diferente de um abusador explícito que proíbe de cara, o narcisista oculto vai, aos poucos, te afastando das pessoas. Ele planta sementinhas de dúvida sobre seus amigos (“Você acha que fulano é seu amigo mesmo? Já reparou como ele te usa?”) ou faz você se sentir culpado por passar tempo com sua família (“Ah, tudo bem, pode ir ver sua mãe, eu fico aqui sozinho, não se preocupe comigo”). Assim, você vai cedendo e reduzindo contato com sua rede de apoio sem ele nem precisar exigir diretamente.
Estes são apenas alguns exemplos. Cada narcisista oculto tem seu estilo de manipulação, mas o resultado é parecido: você se sente cada vez menor, mais confuso e dependente dele. Às vezes, é tudo tão sutil que você se pergunta se não está exagerando. Vamos falar sobre isso a seguir.
Você está exagerando ou realmente sofre abuso emocional?
É muito comum quem sofre abuso emocional se perguntar se está exagerando. Afinal, não há agressão física, e de fora outras pessoas podem achar seu parceiro “tão bom”.
Será que você está inventando história na sua cabeça? Se essa dúvida passa pela sua mente com frequência, já é um sinal de alerta. Quem não vive relação abusiva dificilmente fica questionando a própria sanidade ou culpando a si mesmo o tempo todo.
Uma das táticas mais cruéis de um abusador psicológico disfarçado é o gaslighting – fazer você duvidar da sua própria memória, percepção e até sanidade. Por exemplo, você tem certeza que ele disse algo ofensivo, mas ele nega categoricamente: “Eu nunca falei isso, você está imaginando coisas.” Ou você tem um sentimento válido de tristeza, e ele diz: “Nossa, que drama, você exagera por tudo.”
Aos poucos, você começa a achar que realmente está ficando louco ou que é sensível demais. Essa confusão é um forte indicativo de abuso emocional. Pessoas em relacionamentos saudáveis não vivem nesse constante questionamento interno.
Outra forma de saber se é abuso emocional: avalie o padrão. Todo casal tem brigas e momentos ruins, mas num relacionamento saudável isso é pontual e ambos assumem responsabilidades e aprendem com os conflitos.
Já no relacionamento com um narcisista oculto, o padrão é você sempre sair culpado, você sempre ceder, você sempre se desculpar. Se você tenta expor seus sentimentos, eles são invalidados. Se você coloca um limite, ele é cruzado. Não é um acontecimento isolado – é uma engrenagem que te tritura aos poucos.
Portanto, confie mais nas suas emoções e menos nas palavras dele(a) quando tenta minimizar a situação. Sentimento de opressão, medo ou tristeza constante não são “drama”. É possível que você realmente esteja sendo emocionalmente abusado(a). Reconhecer isso é doloroso, mas é o primeiro passo para buscar ajuda e mudar sua situação.
É possível que ele(a) te manipule sem perceber?
Muitos pacientes me perguntam: “Mas será que ele(a) faz isso de propósito? Ou ele(a) nem percebe que me machuca?” Essa pergunta é importante, porque as vítimas sempre procuram uma explicação para a crueldade do parceiro.
Às vezes, é mais confortável acreditar que o outro não tem consciência do mal que causa (assim você alimenta a esperança de que, se ele “perceber”, talvez mude).
A verdade é que um narcisista oculto está tão centrado em si mesmo que pode até não ter empatia para entender plenamente seu sofrimento, mas isso não significa que ele é inocente. Ele percebe sim quando você está magoado ou confuso – afinal, muitas vezes ele provoca exatamente essa reação para manter o controle da situação.
O que acontece é que, mesmo percebendo, ele não se importa o suficiente ou não admite para si mesmo. Alguns manipuladores até dizem “Eu sou assim, não faço por mal”, mas depois de um tempo isso soa como desculpa para continuar fazendo.
É possível, também, que ele(a) tenha aprendido esses comportamentos manipulativos na família ou em relações anteriores e os repita de forma meio “automática”. Mas aqui é crucial entender: explicar o porquê não justifica nem diminui o dano causado.
Mesmo que você conclua que seu parceiro é um narcisista oculto que age assim meio sem pensar, isso não muda o fato de que você está sendo ferido(a). Muitas vítimas se apegam à ideia de que “ele não sabe o que faz” para continuar na relação. Infelizmente, na maioria das vezes, ele sabe sim em algum nível – pelo menos sabe que sempre consegue o que quer no final das contas, não é?
Lembre-se: um adulto é responsável pelas próprias ações, consciente ou inconscientemente. Se você já tentou explicar que certas atitudes machucam e ele(a) continua repetindo, a questão central não é mais falta de percepção, e sim falta de disposição em mudar.
Em resumo, ele(a) pode até não pensar “vou manipular meu cônjuge hoje”, mas todas as suas escolhas demonstram uma necessidade de poder e controle acima do respeito pelo que você sente. E isso é manipulação, percebida ou não.
Quais frases aparentemente inofensivas escondem intenção de controle?
As palavras têm um poder enorme em qualquer relacionamento. No caso de um narcisista oculto no casamento, ele utiliza frases que soam comuns ou até carinhosas, mas que carregam segundas intenções de controle e manipulação.
Muitas vezes, você só percebe o efeito dessas falas depois, quando já está se sentindo mal. Vou revelar algumas frases aparentemente inofensivas que escondem um jogo psicológico por trás:
- “Você está exagerando, foi só uma brincadeira.”
Aqui ele minimiza seus sentimentos. Você se magoa com algo que ele disse ou fez, e essa é a resposta dele. Passa a mensagem de que o problema não é a atitude dele (que pode ter sido grosseira), mas sim você, que é dramático(a) ou sensível demais. É uma forma de gaslighting: você começa a duvidar se realmente tem direito de ficar chateado(a). - “Eu só quero o seu bem, por isso que…”
Frase clássica de controle disfarçado de cuidado. Geralmente vem seguida de alguma atitude controladora: “…por isso que acho melhor você não sair com essas amigas”, ou “…por isso que cuido de todo seu dinheiro”. Ele se posiciona como protetor, alguém que sabe o que é melhor para você. Mas adultos saudáveis cuidam uns dos outros respeitando limites – quando é para o seu bem de verdade, não te faz sentir sufocado ou infantilizado. - “Depois de tudo que eu faço por você…”
Essa é para te causar culpa e obrigação. Ele lista supostos sacrifícios ou coisas boas que fez e deixa no ar que você não retribui à altura. Um exemplo: “Depois de tudo que eu faço por você, você ainda quer sair sem mim?”. A intenção é clara: te fazer sentir ingrato(a) e se submeter ao que ele quer, porque você deve isso a ele. - “Você está muito sensível/estressado(a) ultimamente.”
Outra maneira de invalidar sua reação e colocar a culpa em você. Ao dizer que você anda sensível demais, ele desqualifica qualquer reclamação sua. Tudo vira fruto da “sua cabeça”, não do comportamento dele. É diferente de um parceiro genuinamente preocupado perguntando se você está bem; aqui há um tom de reprovação, como se você fosse emocionalmente instável. - “Se você me amasse de verdade, faria X.”
Essa é direta na manipulação emocional. Colocar uma condição no amor é uma forma de chantagear você. “Se você me amasse, não falaria com tal pessoa”, “… largaria esse emprego”, “… me atenderia na hora que eu ligo”. O recado por trás é: prove seu amor se submetendo à minha vontade. - “Ninguém vai te amar como eu amo.”
Embora possa soar como declaração romântica, dita no contexto errado é na verdade uma forma de amedrontar você para que não o deixe. Implica que você não merece ou não vai conseguir coisa melhor, e que deve aguentar o que ele faz porque pelo menos ele “te ama” (o que sabemos que não é um amor saudável). - “Você não consegue fazer nada direito.”
Essa é bem direta na desvalorização. Algumas vezes vem disfarçada de brincadeira ou “sinceridade para seu bem”. De qualquer forma, a ideia é minar sua confiança até em tarefas simples, para que você acabe dependente dele até nas coisas básicas, achando que realmente é incapaz. - “Não conte nossos problemas para ninguém.”
Ele pode alegar que é uma pessoa reservada ou que “ninguém de fora entende nosso relacionamento”. Isso isola você de qualquer validação externa. Impede que você busque opinião de amigos, família ou terapeutas sobre o que está acontecendo. Quanto menos gente souber, mais o narcisista oculto mantém o controle da narrativa e da situação.
Você reconhece alguma dessas frases no seu dia a dia? Já sentiu o peso dessas palavras aparentemente inocentes? Fique atento: quando expressões assim se repetem com a intenção de te diminuir, culpar ou controlar, o relacionamento já não está em bases saudáveis.
Existe esperança de mudança ou é melhor pensar em separação?
Essa é possivelmente a pergunta mais difícil e dolorosa: Meu parceiro(a) narcisista oculto pode mudar? Ou não há outra saída a não ser terminar o casamento? Como psicoterapeuta, prezo pela sinceridade empática.
A realidade é que transformar traços de personalidade profundamente enraizados é complicado. O transtorno de personalidade narcisista, conforme descrito no DSM, é definido por padrões inflexíveis ao longo da vida.
Uma pessoa com esses traços não muda simplesmente porque o outro pediu ou porque teme te perder. Mudar implica um trabalho interno intenso, reconhecendo erros e abrindo mão de poder – justamente as áreas em que um narcisista tem mais dificuldade.
Existe esperança? Depende. Se seu parceiro realmente reconhecer que tem um problema (o que é raro, pois muitos narcisistas nem admitem que erram) e estiver disposto a procurar ajuda profissional e se dedicar à psicoterapia por um longo período, pequenas melhoras podem acontecer.
Às vezes, pessoas com traços narcisistas atenuam comportamentos com psicoterapia, especialmente se conseguirem desenvolver um mínimo de empatia e autoconsciência. Mas é importante você ter claro: você não pode mudar o outro, por mais que o ame. A mudança tem que vir dele, e ninguém pode garantir que virá.
Por outro lado, esperar indefinidamente por uma transformação custará sua saúde mental, seu tempo de vida e até sua segurança. Muitos maridos narcisistas ocultos (ou esposas) fazem promessas após uma briga feia, dizendo que vão mudar, que nunca mais vão fazer tal coisa.
Mas sem um acompanhamento psicoterapêutico sério e vontade genuína, são apenas palavras vazias ditas para não te perder no momento. Preste atenção nas ações, não nos pedidos de desculpa ou promessas após os momentos críticos.
E quanto a pensar em separação? Essa é uma decisão profundamente pessoal e difícil. Ninguém além de você sabe o que você viveu e qual é seu limite.
Contudo, é fundamental ponderar: o quanto esse relacionamento está te fazendo bem ou mal? Você se reconhece mais? Consegue se imaginar passando mais 5, 10 anos nessa mesma dinâmica? Se a resposta te assusta, talvez seja hora de considerar seriamente se manter esse vínculo é viável.
Separar-se de um narcisista não é fácil – eles tendem a te envolver num laço emocional forte (muitas vezes chamado de laço traumático) que te faz sentir pena dele, ou medo de nunca mais ser amado, ou culpa por “abandoná-lo”.
Esses sentimentos são compreensíveis, mas não são bons conselheiros. Nessas horas, tente se lembrar de quem você era antes desse relacionamento, das pessoas que te amam de verdade (amigos, família) e do exemplo que você quer talvez dar aos seus filhos (se os tiver): você gostaria que eles aguentassem um casamento assim?
Há casos em que a pessoa com traços narcisistas aceita ajuda e o casamento consegue se reestruturar de forma mais saudável. Mas esses casos geralmente envolvem condições específicas: o abusador reconhecendo o problema e trabalhando ativamente nele, e a vítima impondo limites firmes e também se tratando para não cair mais em manipulações. Se não há esse cenário ideal, proteger-se e, em último caso, sair da relação pode ser o caminho necessário para sua sanidade e bem-estar.
Resumo
Sinais e características | Exemplos práticos e consequências emocionais |
---|---|
Falsa humildade e vitimismo | Se faz de vítima para gerar culpa e obter atenção constante. |
Sensibilidade extrema à crítica | Não aceita críticas; reage com agressividade passiva e punições sutis, como silêncio prolongado. |
Comportamento diferente em público e em casa | Gentil com os outros; frio e crítico com o cônjuge em particular. |
Empatia superficial | Demonstra preocupação rápida, mas não verdadeira ou profunda. |
Controle disfarçado de cuidado | Decide por você, alegando preocupação ou proteção excessiva. |
Oscilação entre afeto e frieza | Alterna carinho e indiferença para manter você emocionalmente dependente. |
Sabotagem da autoestima | Usa comentários depreciativos disfarçados de brincadeira ou preocupação. |
Isolamento gradual do parceiro | Critica amigos ou familiares para te afastar da sua rede de apoio. |
Gaslighting (manipulação da realidade) | Faz você duvidar da sua memória, percepção e sentimentos. |
Frases manipulativas aparentemente inocentes | “Você exagera”, “É só brincadeira”, “Eu só quero seu bem”, “Se você me amasse…” |
Perguntas frequentes
- Como diferenciar narcisismo oculto de comportamentos normais do dia a dia?
Comportamentos narcisistas são consistentes, geram sofrimento emocional frequente e têm como padrão controlar, culpar e manipular o outro. Situações normais são pontuais, isoladas, e resolvidas com diálogo e empatia. - Quais são os primeiros sinais de alerta que indicam um parceiro narcisista oculto?
Sensação frequente de confusão emocional, questionar a própria percepção da realidade, medo constante de magoar o parceiro, e sentir-se culpado(a) mesmo sem motivo aparente. - É possível que meu parceiro seja um manipulador passivo sem perceber?
Embora seja possível que ele não perceba totalmente a profundidade do dano, é provável que tenha noção dos benefícios emocionais que obtém com seu comportamento manipulador. - O narcisista oculto sempre se faz de vítima?
Sim, frequentemente ele usa o vitimismo para obter simpatia, atenção e controle, fazendo você sentir-se responsável pelo bem-estar emocional dele. - Como o narcisista oculto reage quando confrontado?
Ele geralmente nega, minimiza, culpa você ou adota comportamentos passivo-agressivos, como silêncio prolongado, frieza ou ironia. - Quais frases comuns indicam manipulação emocional?
Frases como: “Você exagera muito”, “Foi só uma brincadeira”, “Você é muito sensível”, “Se você me amasse, faria…”, são indicadores claros de manipulação emocional sutil. - Meu cônjuge pode mudar se for um narcisista oculto?
É raro, mas possível, desde que ele reconheça o problema, aceite terapia individual e demonstre consistentemente interesse genuíno em mudar comportamentos. - Como me proteger emocionalmente de um abusador psicológico disfarçado?
Busque psicoterapia individual para fortalecer sua autoestima, aprenda a estabelecer limites claros, mantenha conexões com amigos e familiares, e valide suas percepções. - O que é gaslighting e como saber se estou sofrendo isso no casamento?
Gaslighting é quando seu parceiro manipula informações ou nega fatos para você duvidar da sua própria percepção, memória ou sanidade. Se você frequentemente questiona se está ficando “louco(a)” ou exagerando, pode ser um sinal. - Quando é hora de procurar ajuda psicológica ou considerar separação?
Quando você percebe que está sofrendo constantemente, perdendo sua identidade ou sua saúde mental está sendo afetada, é hora de buscar terapia individual e refletir seriamente sobre a viabilidade do relacionamento.
Palavras finais
Reconhecer que você está num relacionamento abusivo é doloroso, mas também libertador. A partir daqui, você pode tomar medidas para se recuperar e retomar as rédeas da sua vida.
Uma ferramenta fundamental nesse processo é a psicoterapia individual. Buscar ajuda de um profissional de saúde mental vai te dar um espaço seguro para entender suas emoções, reconstruir sua autoestima e aprender a se proteger de futuros abusos.
Na psicoterapia, você vai trabalhar o autoconhecimento: compreender por que você tolerou certas coisas, que necessidades emocionais estavam em jogo, e como romper padrões de relacionamentos abusivos. Muitas vezes, a pessoa que sofre com um narcisista oculto no casamento ficou tanto tempo sendo manipulada que perde a noção do seu valor e de quem é de verdade.
O psicoterapeuta vai te ajudar a enxergar a situação com mais clareza (sem a névoa do gaslighting), validar o que você sentiu e sente, e trabalhar a culpa indevida que você carrega.
Lembre-se: não importa se o abusador se apresenta como um marido narcisista oculto ou como um cônjuge com vaidade camuflada – em ambos os casos, o sofrimento de quem convive com ele é real e merece atenção.
E caso decida que a separação é o melhor, saiba que apesar do medo do desconhecido, depois da tempestade vem a sensação de alívio e recomeço. Sair de um relacionamento abusivo é um ato de coragem e amor próprio.
Encerro com uma reflexão: que tipo de vida você quer para si daqui em diante? Uma vida de constante angústia e manipulação, ou uma vida onde você se sinta seguro(a), livre e em paz? A resposta está dentro de você. Qualquer que seja seu caminho – reconciliação com mudança real ou libertação desse laço – faça isso por amor a si mesmo(a). Procure ajuda, confie na sua percepção e lembre-se: não, você não está exagerando. Você merece ser tratado(a) com respeito e consideração.
Referências
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
- BROWN, Brené. A coragem de liderar: como enfrentar vulnerabilidade, enfrentar o medo e estimular a confiança. Rio de Janeiro: BestSeller, 2019.
- CAMPBELL, W. Keith; MILLER, Joshua D. The handbook of narcissism and narcissistic personality disorder: theoretical approaches, empirical findings, and treatments. Hoboken: Wiley, 2011.
- EVANS, Patricia. Abuso verbal: como reconhecer, entender e combater relacionamentos abusivos. São Paulo: Cultrix, 2018.
- HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
- KERNBERG, Otto F. Relacionamentos amorosos: normalidade e patologia. Porto Alegre: Artmed, 1995.
- KLIMECKI, Rosane. Relacionamentos abusivos: como identificá-los e superá-los. São Paulo: Benvirá, 2017.
- TWENGE, Jean M.; CAMPBELL, W. Keith. A epidemia do narcisismo: vivendo na era dos direitos e expectativas exageradas. Rio de Janeiro: BestSeller, 2010.
- WARDEN, Harriet Braiker. Manipuladores emocionais: como reconhecer e lidar com pessoas que exploram seus sentimentos. São Paulo: Gente, 2005.
- ZANINI, Marco Antonio de Tommaso. Relações tóxicas e saúde emocional. Rio de Janeiro: Vozes, 2019.
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