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Psicoterapeuta especialista em narcisismo e borderline desde 2012.

Os motivos do porquê o narcisista fica quieto

Os significados ocultos do porquê o narcisista fica em silêncio

O narcisista fica quieto como uma maneira de manter o controle. O silêncio serve para que a vítima restaure a normalidade no relacionamento.




O silêncio é intrigante, ainda mais quando envolve pessoas que, normalmente, se destacam pelo excesso de fala sobre si mesmas. Quando o narcisista fica quieto, abre-se um universo de questionamentos sobre suas intenções reais. Afinal, o que estaria por trás desse súbito recolhimento, especialmente em perfis que, na maioria das vezes, buscam atenção constante?

É comum que amigos, familiares e até mesmo parceiros românticos fiquem confusos, sentindo-se ora desprezados, ora penalizados. Ademais, profissionais e estudantes de psicoterapia também se debruçam sobre essa manifestação para compreender, de forma mais ampla, as dinâmicas subjacentes a um comportamento que mais parece um enigma ambulante.

Portanto, este artigo tem como objetivo geral investigar e explicar as principais razões que levam um indivíduo narcisista a adotar a postura silenciosa, evidenciando os fundamentos psicológicos e emocionais que alimentam tal conduta.

Desse modo, será possível identificar se o silêncio narcísico funciona como uma espécie de punição, de manipulação ou mesmo de mecanismo de defesa. Ademais, pretende-se abordar as consequências desse comportamento nas relações interpessoais, incluindo familiares, parceiros, colegas de trabalho e qualquer pessoa que conviva direta ou indiretamente com esse tipo de personalidade.

Outrossim, o texto se destina a todos que desejam compreender melhor o narcisista em silêncio: de curiosos em busca de informação, passando por estudantes e profissionais de saúde mental, até indivíduos que convivem diariamente com essa figura enigmática.


A origem do silêncio narcísico

Antes de mergulharmos nas explicações sobre o comportamento silencioso do narcisista, é relevante entender que o narcisismo, como traço de personalidade ou transtorno, frequentemente remete a uma busca incessante por validação externa. Mas o que significa quando um narcisista se torna repentinamente silencioso?

Em muitos casos, esse recolhimento surge como uma ferramenta de manipulação — o famoso “tratamento de silêncio” — ou como forma de autoproteção diante de críticas que possam ferir o ego.

A psicóloga clínica Dra. Amanda S. Garcia (ALMEIDA, 2020, p. 45) explica que o narcisista costuma ter uma grande sensibilidade à rejeição ou à perda de controle. Desse modo, o silêncio estratégico do narcisista surge no momento em que percebe que está em risco de ser contestado.

Por outro lado, quando se sente questionado em sua “superioridade”, pode optar por se calar para gerar ansiedade no outro, mantendo-se como o centro das atenções, mesmo que de forma negativa. Outrossim, essa postura atende à necessidade de continuar no comando da situação.

Relatos postados no Reddit (REDDIT, 2023) apontam que várias pessoas sentiram um misto de alívio e inquietude quando o parceiro narcisista escolheu o silêncio após um desentendimento. Em suas palavras: “Achei que ficaria em paz, mas a ausência de comunicação tornou-se um tormento ainda pior.”

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Assim, o calado manipulador fere a estabilidade emocional alheia e consegue, de uma forma aparentemente “passiva”, manter a vítima sob tensão constante. Em contrapartida, é comum que esses indivíduos não enxerguem tal reação como prejudicial; ao contrário, entendem-na como um direito legítimo de se resguardar.

Mas será que esse silêncio se constitui apenas como uma forma de punição? Estudos sugerem que, em certas situações, o narcisista pode experimentar vergonha ou insegurança, o que culmina em um narcisismo mudo.

Nesse cenário, ele se sente profundamente ameaçada ao ter sua fachada de grandiosidade confrontada, e o retraimento é a maneira encontrada para não expor vulnerabilidades. Todavia, o que parece ser uma postura de humildade costuma ser, na realidade, um artifício para reparar o ego ferido, de modo que, tão logo o indivíduo se sinta restaurado, retornará aos velhos padrões de comportamento.


A função estratégica do silêncio

Um dos pontos essenciais para desvendar por que o narcisista te ignora logo depois de uma discussão ou briga consiste em analisar a função estratégica que esse recolhimento exerce.

Quando o narcisista fica quieto, a incerteza gerada no interlocutor alimenta uma série de dúvidas: “Será que estou sendo punido?” ou “Ele(a) está arrependido?”. Assim, a mente do outro se consome na tentativa de interpretar esse silêncio, o que, por sua vez, concede poder ao narcisista, pois mantém o controle dos rumos da interação.

Em um estudo publicado na revista Psychology of Personality (WIKIPEDIA, 2021), apontou-se que mais de 60% das pessoas que relataram relacionamentos com indivíduos narcisistas vivenciaram repetidamente o “tratamento de silêncio”.

O que fazer para não cair em jogos mentais quando ele se cala? A recomendação de especialistas é não alimentar o labirinto de interpretações e buscar estabelecer limites claros e objetivos.

Entretanto, isso nem sempre é fácil, especialmente quando se está emocionalmente envolvido. O narcisista pode interpretar tais limites como afronta, intensificando seu distanciamento.

Será que existe alguma culpa ou remorso por trás desse comportamento silencioso? Muitas vezes, as atitudes do narcisista parecem sugerir que não há remorso algum. Entretanto, alguns pacientes em psicoterapia (QUORA, 2022) admitiram sentir certo peso na consciência após longos períodos de “inércia calculada do narcisista”.

Mesmo assim, é importante destacar que esse reconhecimento raramente leva a mudanças reais no padrão de comportamento, pois o mecanismo primário ainda é preservar a autoimagem de perfeição. Em geral, quando pressionado a retomar o contato, o narcisista pode fazê-lo de forma abrupta e pouco empática.

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Em suma, o silêncio estratégico do narcisista funciona como uma poderosa arma de controle, especialmente quando usado repetidamente.

Como agir ou reagir quando o narcisista se recusa a se comunicar? A princípio, manter a calma e evitar alimentar o ciclo de provocação são táticas recomendadas. Além disso, é fundamental reconhecer a manipulação por trás do distanciamento e, sempre que possível, buscar ajuda profissional ou até mesmo apoio de pessoas de confiança. Desse modo, o silêncio passa a ser menos impactante, abrindo espaço para manter a estabilidade emocional.


Diferenciando “tempo de reflexão” normal do silêncio manipulativo

Às vezes, qualquer indivíduo precisa de um momento de solidão para refletir, acalmar a mente e reorganizar os pensamentos. Mas como diferenciar um “tempo de reflexão” normal de um silêncio estratégico do narcisista?

Em primeiro lugar, é necessário observar a intenção por trás da pausa comunicativa. Um “tempo de reflexão” geralmente surge após uma situação de estresse intenso, sendo comunicado de forma clara e, sobretudo, sem o propósito de ferir o outro. Contudo, quando o silêncio vira moeda de troca ou punição, suspeite de uma abordagem passiva do narcisista para manipular.

Além disso, no caso de um recolhimento saudável, a pessoa retorna à interação após o descanso, disposta a conversar e resolver conflitos.

o distanciamento narcísico tende a se prolongar e, muitas vezes, retorna com críticas e hostilidade veladas, sugerindo que o distanciamento foi usado para criar tensão e reafirmar o poder pessoal. Portanto, ficar atento à forma como a comunicação é retomada pode ser um sinal fundamental para distinguir um simples espaço pessoal de uma manobra controladora.

Outra distinção crucial está na maneira como o silêncio é anunciado. Se alguém diz: “Preciso de um tempo para pensar, mas voltarei assim que me sentir melhor”, estamos possivelmente diante de uma pausa legítima.

Entretanto, se a pessoa simplesmente se cala, ignora mensagens e evita contato por dias ou semanas, dificilmente estamos falando de algo inofensivo. Há quem descreva esse período como uma verdadeira “tortura psicológica”, pois o silêncio se torna um vácuo cheio de incertezas. Em síntese, a falta de empatia e de clareza sobre os motivos do afastamento costuma revelar o caráter manipulativo.

Alguns psicoterapeutas familiares (MOREIRA, 2019, p. 87) reforçam que o comportamento silencioso do narcisista tende a deixar marcas profundas nos relacionamentos, pois inibe o diálogo saudável e promove um clima de tensão constante.

Como manter sua saúde mental ao lidar com esse silêncio prolongado? Uma estratégia recomendada é reforçar a própria autoestima e estabelecer limites, mostrando que a ausência de comunicação não é uma ferramenta válida para resolver conflitos. Dessa maneira, a pessoa afetada consegue proteger seu bem-estar, ainda que o outro insista em manter a postura de narcisista em silêncio.

A seguir, apresenta-se uma síntese das diferenças entre um “tempo de reflexão” genuíno e o silêncio narcísico:

AspectoTempo de reflexãoSilêncio Narcisista
Intenção principalDescanso emocional, autorreflexão e solução de conflitos.Controle, manipulação e imposição de tensão emocional.
DuraçãoGeralmente breve e comunicada ao parceiro ou grupo.Pode variar de horas a semanas, sem aviso prévio.
Retomada de contatoRetorna disposto a dialogar e resolver pendências.Retoma o contato com críticas, exigências ou maior hostilidade.
Nível de empatiaBusca minimizar danos ao outro e explicar necessidade.Ignora impactos, visando somente satisfação das próprias demandas.
Efeito no relacionamentoTende a melhorar entendimento e cooperação.Gera insegurança, desgaste emocional e reforça o desequilíbrio de poder.

Duração e perigos do silêncio prolongado

É comum a pergunta: “Quanto tempo, em média, dura o ‘tratamento de silêncio’ de um narcisista?” A resposta é variável, pois depende do objetivo pretendido e do grau de comprometimento do indivíduo com seu padrão de manipulação. Em alguns casos, dura apenas algumas horas ou dias; em outros, semanas inteiras.

Entretanto, estudiosos como o Psicólogo João L. Pereira (PEREIRA, 2021) observam que, se o narcisista não atinge a resposta emocional desejada, tende a estender a inércia, intensificando o controle sobre a vítima. Por isso, não há prazo fixo.

O narcisista fica mais perigoso ou calculista quando para de falar? Existem indícios de que o silêncio prolongado indica um período de reorganização de estratégias para retomar o poder no relacionamento. Um usuário do Quora (QUORA, 2021) relatou que, após uma semana de absoluto silêncio, o parceiro narcisista voltou com exigências ainda mais restritivas e acusações infundadas.

Desse modo, o silêncio não foi apenas um “tempo” de tranquilidade, mas uma forma de planejar a próxima investida emocional. Em outras palavras, o silêncio pode, sim, aumentar o grau de sutileza e frieza nos atos manipulativos.

Nesse intervalo, a vítima tende a ficar em estado de alerta, ansiosa para qualquer sinal de retomada do contato. Todavia, o narcisista utiliza essa vulnerabilidade para impor novas condições ou sustentar sua aparente superioridade.

Existe alguma maneira de encurtar ou interromper o ciclo de silêncio do narcisista? Especialistas recomendam, primeiramente, reconhecer que insistir em diálogo imediato reforça o jogo, pois o narcisista interpreta a ansiedade alheia como evidência de seu poder. Assim, demonstrar certo desapego e buscar apoio terapêutico são etapas primordiais para romper o círculo vicioso.

Além disso, é fundamental questionar: “É possível que o narcisista esteja apenas se protegendo ao ficar quieto?” Em situações raras, o retraimento pode ser uma forma de blindar-se de sentimentos de inadequação ou medo de crítica.

Porém, na maioria dos casos relatados no meu consultório, o distanciamento é parte de uma “inércia calculada do narcisista”, que visa reposicionar-se no topo da hierarquia emocional. Logo, embora haja nuances, a função predominante do silêncio costuma ser a manipulação ou, no mínimo, a imposição de uma dinâmica relacional centrada no ego do manipulador.


Relatos reais e estratégias de lida

Na prática clínica, encontro inúmeros relatos de pacientes que sofreram com o calado manipulador em seus relacionamentos afetivos. Maria (nome fictício), 32 anos, descreveu seu companheiro como alguém que falava sobre si o tempo todo, mas, quando o narcisista ficava quieto, era o pior pesadelo.

Segundo ela, o silêncio ocorria após qualquer divergência de opiniões, prolongando-se por dias. Nesse período, Maria mal conseguia dormir ou se concentrar, mergulhada em dúvidas e autocensura. Todavia, com o auxílio de psicoterapia, ela compreendeu que a raiz do problema estava na dinâmica de poder que o parceiro estabelecia.

Outro caso ilustrativo envolveu Marcos (nome fictício), 29 anos, que relatou sua experiência com um colega de trabalho narcisista. Sempre que havia debates em equipe, esse colega se comportava como o “dono da razão”, mas, surpreendentemente, sumia durante horas — sem dar explicações — quando era contrariado. “Ele voltava agindo como se nada tivesse acontecido, esperando que todos bajulassem suas ideias”, contou Marcos. Dessa forma, o silêncio narcísico se revelava um método de sustentar uma pseudo-superioridade, deixando os demais inseguros e na ânsia de agradar.

Para lidar com tais situações, indico algumas estratégias.

  1. Reconheça que o silêncio é uma tática de manipulação, não um comportamento inocente;
  2. Não se culpe pelo distanciamento do outro, pois essa culpa reforça o ciclo de poder;
  3. Busque comunicação objetiva e, se possível, registre conversas por escrito, evitando cair em contradições impostas pelo narcisista mais tarde;
  4. Mantenha um espaço de autocuidado — seja por meio de psicoterapia, meditação ou atividades que promovam bem-estar. Isso ajuda a recuperar seu senso de valor próprio.

Por fim, é fundamental avaliar se o relacionamento (seja amoroso, familiar ou profissional) vale o desgaste emocional que a retração narcisista provoca. Existe maneira de encurtar ou interromper o ciclo de silêncio do narcisista?

Em certos casos, a única forma de quebrar o padrão é estabelecer limites firmes ou até mesmo encerrar a convivência. Claro, não é uma decisão simples, mas, de acordo com dados divulgados em reportagem do jornal O Observador Psicológico (SILVA, 2020), muitas vítimas relatam significativo alívio após romperem com o convívio tóxico. Esse movimento é decisivo para retomar a sensação de equilíbrio interior.


Palavras finais

É inegável que o narcisista em silêncio desperta inúmeros questionamentos e desconfortos. Em síntese, sua postura de “sumiço” ou “retração” pode ter nuances de autoproteção, mas costuma funcionar predominantemente como instrumento de manipulação e controle.

Ao longo deste artigo, procurei demonstrar que o distanciamento narcísico nem sempre é movido por arrependimento ou genuína busca de harmonia, mas, na maioria das vezes, representa um mecanismo para manter a dinâmica relacional centrada na figura do narcisista.

Diante disso, cabe reforçar que, para aqueles que lidam com o comportamento silencioso do narcisista, a melhor estratégia passa por reconhecer o padrão tóxico, estabelecer limites claros e não sucumbir ao jogo de poder.

De fato, o silêncio prolongado pode trazer danos significativos à saúde mental do outro, gerando ansiedade, insegurança e desgaste emocional. Assim, recorrer a ajuda profissional e buscar suporte em grupos de convivência é fundamental para fortalecer a autoestima e reduzir a vulnerabilidade às investidas narcísicas.

Por fim, não se pode esquecer que cada relacionamento possui contextos particulares e que o narcisismo pode se manifestar com diferentes intensidades. Desse modo, a informação continua sendo a melhor arma para desmistificar comportamentos e oferecer caminhos de enfrentamento.

Espero que este artigo, ao responder questões como “Existe alguma culpa ou remorso por trás desse comportamento silencioso?” e “Como devo agir ou reagir quando o narcisista se recusa a se comunicar?”, sirva como um guia para que familiares, parceiros, estudantes de psicologia e demais interessados encontrem meios de proteger sua saúde emocional e superar os dilemas impostos por essa abordagem passiva do narcisista.


Referências

  1. ALMEIDA, J. A mente narcisista: um mergulho psicológico. São Paulo: Editora Exemplo, 2020.
  2. MOREIRA, F. Terapia familiar e relacionamentos abusivos. Rio de Janeiro: Editora Consciência, 2019.
  3. PEREIRA, J. L. Dinâmicas de poder e personalidade. 3. ed. Porto Alegre: PsicoPress, 2021.
  4. SILVA, M. Reportagem: o impacto do silêncio em relacionamentos narcisistas. O Observador Psicológico, São Paulo, 15 jan. 2020.
  5. WIKIPEDIA. Narcissistic personality disorder. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Narcissistic_personality_disorder Acesso em: 01 abr. 2025.

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