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Psicoterapeuta especialista em narcisismo e borderline desde 2012.

O excesso de selfies e o narcisismo

O excesso de selfies e o narcisismo

Tirar selfies em excesso pode ser um vício? Quando tirar selfies podem ser saudáveis? Há relação entre selfies, narcisismo e baixa autoestima?




Nos últimos anos, o ato de tirar selfies tornou-se uma prática comum, principalmente com o advento das redes sociais. Pessoas que postam muitas fotos de si mesma frequentemente buscam se expressar, criar conexão ou simplesmente registrar momentos.

No entanto, para algumas, esse comportamento vai além de uma simples diversão, levantando questões sobre autoestima e saúde mental. Nesse contexto, é essencial explorar as possíveis relações entre selfie e narcisismo, além de compreender o impacto desse hábito na vida cotidiana.

Embora seja natural buscar validação social em algum nível, o excesso de selfies indica a necessidade de atenção ou até mesmo “a carência por trás das selfies”. Muitas vezes, há fatores emocionais que levam a esse comportamento, como insegurança ou solidão. Contudo, o limite entre o saudável e o prejudicial nem sempre é claro, e é aqui que a análise psicológica se torna crucial.


O que o excesso de selfies revela sobre a autoestima?

Tirar muitas fotos de si mesmo pode, muitas vezes, estar relacionado à autoestima. Algumas pessoas utilizam as selfies como uma forma de reforçar sua autoconfiança ou buscar validação externa por meio de curtidas e comentários positivos. Contudo, quando essa prática se torna compulsiva, aponta para uma autoestima fragilizada.

Por exemplo, uma jovem que publica selfies diariamente está tentando compensar inseguranças internas, buscando continuamente aprovação social para se sentir bem consigo mesma. Segundo o DSM-5 (2014), padrões repetitivos de comportamento que buscam validação externa estão associados a transtornos como ansiedade social ou até mesmo transtorno dismórfico corporal.

Ademais, estudos mostram que pessoas que postam muito status ou fotos frequentemente comparam sua aparência às de outros nas redes sociais, gerando insatisfação pessoal (KAYIS et al., 2016). Por outro lado, há casos em que as selfies funcionam como um recurso terapêutico, ajudando a pessoa a reconhecer e valorizar aspectos positivos de si mesma.

Dessa forma, é importante avaliar se a prática de tirar selfies promove bem-estar ou se reforça padrões de comparação e insegurança. A reflexão pessoal e o acompanhamento profissional são estratégias eficazes para equilibrar esses comportamentos.


Selfie e narcisismo: existe uma relação direta?

A associação entre selfie e narcisismo é frequentemente debatida, mas é importante contextualizá-la. O narcisismo, conforme descrito no DSM-5, caracteriza-se por comportamentos centrados em si mesmo, busca por admiração constante e dificuldade em lidar com críticas (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Nesse sentido, o ato de postar muitas fotos de si mesmo pode, em alguns casos, ser um reflexo dessas características.

No entanto, é crucial diferenciar o narcisismo patológico da busca saudável por reconhecimento. Por exemplo, uma influenciadora digital que publica selfies como parte de sua carreira está utilizando a prática de forma funcional. Já uma pessoa que posta muitas fotos buscando incessantemente validação emocional pode estar apresentando traços narcisistas mais evidentes.

Além disso, a carência por trás das selfies muitas vezes aponta para necessidades emocionais mal resolvidas, mais do que um narcisismo pleno. Por isso, é essencial compreender o contexto de cada indivíduo antes de fazer julgamentos precipitados.

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Família e amigos podem ajudar observando padrões comportamentais e oferecendo suporte sem críticas diretas, mas incentivando reflexões sobre as motivações por trás do hábito.


Redes sociais: um incentivo ou um vilão?

O impacto das redes sociais no hábito de tirar selfies é inegável. Plataformas como Instagram e TikTok criaram um ambiente onde pessoas que postam muitas fotos de si mesma frequentemente recebem estímulos positivos, como curtidas e comentários. Essa dinâmica reforça o comportamento, transformando-o em um ciclo difícil de romper.

Um exemplo é o fenômeno conhecido como “dopamina social”, no qual o cérebro associa curtidas e interações com recompensas emocionais. Isso explica por que pessoas que postam muito status ou fotos se sentem compelidas a manter a frequência das publicações.

Contudo, quando as interações online se tornam a principal fonte de autoestima, surge um desequilíbrio emocional.

Por outro lado, o uso saudável das redes sociais deve ser incentivado. Uma estratégia é alternar selfies com outros tipos de conteúdo que representem os interesses e habilidades da pessoa, reduzindo o foco exclusivo na aparência. Além disso, períodos de “detox digital” ajudam a restaurar a autoconfiança baseada em fatores internos.


Quando o hábito se torna um problema?

Embora postar selfies seja um comportamento comum, certos sinais indicam que o hábito está associado a problemas psicológicos. Entre eles, estão a compulsão por tirar fotos, a ansiedade por não receber curtidas suficientes e o isolamento social causado pelo uso excessivo das redes.

Por exemplo, um caso relatado no DSM-5 descreve um jovem que passou a evitar interações sociais para editar e postar selfies, resultando em um quadro de depressão e ansiedade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Essa compulsão reflete um desejo profundo de aceitação, que muitas vezes mascara inseguranças significativas.

Os familiares e amigos podem desempenhar um papel importante ao abordar o assunto de forma empática. Em vez de críticas, é mais eficaz iniciar conversas que ajudem a pessoa a refletir sobre seus comportamentos e motivações. Além disso, incentivar a busca por ajuda profissional faz uma diferença significativa.


Estratégias terapêuticas e práticas saudáveis

Se o hábito de tirar selfies se torna prejudicial, existem estratégias terapêuticas que podem ajudar. A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, é eficaz para identificar e reestruturar pensamentos distorcidos sobre aparência e validação externa. Investir em saúde mental e buscar tratamento são passos fundamentais para superar esses desafios.

Além disso, técnicas de mindfulness ajudam a desenvolver uma relação mais saudável consigo mesmo. Descobrir mindfulness, por exemplo, reduz a ansiedade associada às redes sociais e fortalece a autoestima interna. Combinar essas abordagens com o apoio de amigos e familiares cria um ambiente propício para mudanças positivas.

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Por fim, é importante lembrar que todos têm dias em que se sentem mais vulneráveis. Manter o equilíbrio e buscar atividades que promovam bem-estar emocional são passos essenciais para uma relação mais saudável com as redes sociais e consigo mesmo.


Resumo

TópicoResumo
Relação com a autoestimaPode indicar tanto confiança quanto insegurança emocional.
Selfie e narcisismoNem sempre é narcisismo; muitas vezes reflete carências emocionais.
Redes sociaisInfluenciam o comportamento por meio de validação social.
Quando é um problemaAnsiedade por curtidas e compulsão por selfies são sinais de alerta.
Terapias e estratégiasTerapia cognitivo-comportamental e mindfulness ajudam na autorregulação emocional.

Perguntas frequentes

  1. Tirar muitas selfies significa narcisismo?
    Não necessariamente; pode refletir insegurança ou busca de validação.
  2. Há relação entre selfies e autoestima?
    Sim, as selfies podem tanto reforçar quanto prejudicar a autoestima.
  3. Redes sociais influenciam esse comportamento?
    Sim, as redes incentivam o hábito com curtidas e interações.
  4. Como abordar alguém com esse hábito?
    Converse com empatia e sugira reflexões sobre o comportamento.
  5. Quais terapias ajudam?
    Terapia cognitivo-comportamental e mindfulness são opções eficazes.

Palavras finais

O hábito de tirar selfies reflete tanto tendências sociais quanto aspectos psicológicos individuais. Embora muitas vezes inofensivo, o comportamento pode se tornar problemático quando associado à baixa autoestima ou compulsões. Explorar as motivações por trás desse hábito é essencial para entender como ele impacta a saúde mental e emocional.

É importante considerar que o comportamento de “pessoas que postam muitas fotos de si mesma” não deve ser imediatamente rotulado como narcisista. Em vez disso, é fundamental avaliar os contextos sociais e emocionais que contribuem para essa prática. O apoio profissional e o diálogo saudável desempenham um papel vital na promoção de mudanças positivas.

Por fim, o equilíbrio é a chave. Seja reduzindo o uso das redes sociais, seja fortalecendo a autoestima por meio de outras práticas, há muitas formas de lidar com esse comportamento de maneira saudável. Buscar autoconhecimento e apoio são caminhos que ajudam a construir uma relação mais positiva consigo mesmo e com os outros.


Referências

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2014.
  • KAYIS, A. R. et al. Big five-personality trait and selfie-related behaviors: Selfie editing frequency mediates the relationship. Personality and Individual Differences, v. 124, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.paid.2017.12.002.
  • CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília: CFP, 2005. Disponível em: http://www.cfp.org.br.

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Comentários

3 respostas para “O excesso de selfies e o narcisismo”

  1. E quando não se fotógrafa, somente os outros…por nunca se achar o suficiente boa ou bonito (pois convivia com alguém que o tempo todo a lembrava ser ridícula, desqualificada, desconectada com o mundo vigente e desconexa). No processo, sua imunidade caiu assustadoramente, adoecendo muito, então sua nutri e demais médicos, terapeuta, aconselharam descobrir um hobby. Como amava natureza, gastronomia, a registrar seus momentos de lazer e o que vinha comendo (produzindo também), já que estava em transição com rígida seletividade alimentar. Foi sugerido que abusasse da criatividade. E anotasse além das fotos, para perceber a variedade de alimentos possíveis e o quão bonitos seus pratos decorados com carinho que lhe era peculiar. A terapeuta percebeu que suas imagens eram mortas ( termo usado nas artes, qdo não a presença de humanos, são com lugares, paisagens vazias, e alimentos). Perguntando: Cadê vc nas fotos? Qdo é respondido que não gosto de aparecer, teria de me arrumar,etc,etc. Ela aconselha, sim a se arrumar, a se gostar, e aparecer…por que não, disse a terapeuta, apontando qualidade e sugerindo como tarefa a fazer e trazer à terapia como modo de aumentar a autoestima, aceitação, a se sentir parte do contexto e começar se amar . A dica: Carpe Vita, Carpe Dien. Dar a casa dia a sua cara, aproveitar a oportunidade. Se hoje não está tão bom, mas há muito o que valorizar. Usar os registros também como memórias, lembranças de momentos singulares. E quando há todo esse contexto, o que dizer sobre as fotos, as selfies?
    Já aproveito para uma segunda análise, que acredito seja bem diferente, nos fatos em que a pessoa queira monetização das suas redes sociais? Gostaria muito de saber sua opinião, aprender mais sobre esse assunto. Agradeço desde sua atenção.

  2. Avatar de Sergio Luiz
    Sergio Luiz

    E qdo a selfie é única e exclusiva para provocar alguém? A pessoa sabe que a outra deverá ver, então posta que está bem, mas no fundo é sabido que não.

    1. Daí estamos falando de um fenômenos chamado de sublimação, transformar o inaceitável em aceitável para a pessoa. É inaceitável o término, mas é aceitável provocar ciúmes no outro.

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