Este é o depoimento de uma paciente, do ano de 2024. Ela estava desesperadamente sentindo falta de um ex narcisista. Também pensava nele todos os dias e o bloqueou de todas as redes sociais. Então, por que ainda estava viciada nele?
Após algum tempo em terapia, ela concordou em publicar um depoimento, de forma anônima, mas como forma de fortalecer e incentivar outras pessoas na mesma situação:
Namorei um narcisista. Ingenuamente, eu esperava que, com esforço suficiente e comunicação honesta, ou se eu fosse “boa o suficiente”, solidária, cortasse os laços com os amigos de quem ele não gostava, criativa, bonita, bem-sucedida e sexy, eu poderia ajudá-lo em toda a sua raiva e nosso amor acabaria superando tudo.
Mas EU estava errada.
Na verdade, ele era viciado em sua necessidade de estar no controle. Ele me desfilou por sua imagem, me devorou inteira e me cuspiu… como punição por ser “fraca” para amá-lo. Este relacionamento foi totalmente abusivo. No final, apanhei-me com saudades dele.
Durante o período de contato zero, nossas vitórias devem ser celebradas. Quer não tenhamos mantido contato com o ex-parceiro por 30 dias ou um ano inteiro, há aquele anseio familiar que surge de vez em quando. É irracional e destrutivo, mas às vezes é inevitável.
Lembre-se de que seu vício no narcisista é criado logo no início do relacionamento. O love bombing nos faz esperar por um futuro brilhante juntos. Gestos grandiosos e românticos, atenção focada no lazer e encontros épicos são configurações para reforçar o comportamento positivo, e assim dando uma pausa nos abusos periódicos a que nos sujeitam.
Eles criam e cimentam as memórias de uma vida inteira — e criam um forte vínculo de trauma no qual o agressor e a vítima permanecem ligados por meio de experiências emocionais intensas compartilhadas.
Como qualquer ser humano, somos suscetíveis à idealização desse ciclo tóxico porque representa a realização de nossas necessidades humanas básicas: amor, pertencimento, parentesco. Queremos desesperadamente ter um retorno do nosso investimento. Temos sentimentos muito “humano” pelo nosso agressor.
Apesar de tudo: ansiamos pelo seu carinho, pela sua aceitação, pela sua aprovação. Somos treinados para buscar sua validação. Estamos viciados na droga que é o abuso narcisista.
Quando finalmente chega o fim da relação tóxica, seja ela imposta por nós ou pelo narcisista, o luto também tem o seu lugar. Se a nossa dor não for abordada, ela ficará alojada nos nossos cérebros, nos nossos corações e nos nossos espíritos como nostalgia de um homem ou mulher que nunca existiu.
As lágrimas que você chora podem não ser pela pessoa que você pensou que conhecia, mas pela fachada — a pessoa que fingiu se importar. Mas isso não torna a dor menos real.
Dói apagar as pessoas que passamos uma quantidade significativa de tempo amando, criando memórias, tentando nos conectar. Dói ser apagado sem pensar duas vezes. Dói lembrar de quaisquer bons momentos não significaram tanto para o narcisista. Isso é normal e isso é humano.
Mas há uma diferença entre validar nossas emoções e usá-las como justificativas para continuar o ciclo.
Podes sofrer. Você pode se enfurecer (com segurança). Você pode sentir falta da pessoa que você pensou que conhecia. Você pode sentir que é o fim do mundo.
Mas você também pode se dar permissão para saber que este não é o fim do mundo — este é o início de uma nova vida. Então, quando você tiver aquele desejo irresistível no peito —, aquele que o incentiva a verificar o que ele está fazendo, estender a mão ou responder a uma tentativa recente de contato, pare.
Respire. Você não sente falta do verdadeiro eu do narcisista. Você sente falta da máscara falsa dele.
Pergunte a si mesmo: quais momentos estou romantizando? Quais momentos estou esquecendo? Aposto que, se olharem bem, não se lembrarão apenas daquelas viagens e encontros românticos, mas também dos argumentos malucos que os precedem.
Se você reavaliar todas aquelas vezes que eles compraram flores e presentes para você, também se lembrará das inúmeras vezes que chorou até dormir, tentando fazê-los entender seu ponto de vista.
Você vai se lembrar cada vez que ele te sabotou, isolou e traiu. Você vai se lembrar de todas as vezes que ele te desrespeitou, fez você se sentir pequena e envergonhada com as coisas das quais você deveria se orgulhar. Você vai se lembrar de como ele cortou pedaços da sua identidade, pouco a pouco. Você vai se lembrar de como ele te insultou e menosprezou.
Lembre-se-te do que ele fez você se sentir o tempo todo. Ele estava te dando desculpas falsas e lágrimas de crocodilo. Lembre-se de como ele quase levou você à um ponto sem retorno. Lembre-se de como ele te tratou como sujeira na parte inferior do sapato. Lembre-se de como ele tentou roubar sua autoestima. Lembre-se de como ele agiu como se você não bastasse, mesmo quando você sempre merecia algo melhor.
Os narcisistas têm pouco ou nenhum remorso ou empatia. Não sentem na medida em que sentimos. O fato de sentirmos tão profundamente por esses indivíduos distorcidos é uma evidência de que um dia poderemos sentir isso por alguém realmente digno de nosso amor e atenção.
Não desista da esperança. Você está abrindo um novo caminho. Um caminho para a cura. Por milagres. Para luz. Para que o amor verdadeiro e o amor próprio entrem. Este é o caminho para a sua liberdade.
Sempre que você estiver tentado a se envolver novamente na toxicidade e quebrar o contato zero, quero que você leia isso. Quero que te lembres do quão longe chegaste. Lembre-se do seu senso de autoestima e nunca se esqueça de todas as maneiras pelas quais ele tentou tirar isso de você.
Lembre-se de quão longe você chegou sem ele. Lembre-se de até onde você irá se continuar a curar.
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