Este é o depoimento de uma paciente, do ano de 2023. Apesar de todo o sofrimento a partir do abuso narcisista, ela conseguiu se recuperar.
Ela também concordou em publicá-lo, como forma de fortalecer e incentivar outras pessoas na mesma situação:
Meu marido e eu tínhamos acabado de comprar uma casa. Já estávamos casados há dois anos e ele saiu com nossa vizinha. Acordei no meio da noite e percebi que ele ainda não estava em casa.
Não consegui voltar a dormir. Eu estava preocupada que algo tivesse acontecido com ele.
Cinco horas depois, ele entrou pela porta e fiquei furiosa, mas não pelo motivo que a maioria ficaria.
Nunca me preocupei com o fato dele ter um olhar errante ou me trair. Fiquei com raiva por ter ficado estressada e preocupada até de manhã.
– “Onde você esteve?” Eu disse.
– “Jogando cartas a noite toda”, disse ele. “E então depois fui tomar café da manhã.”
– “Você está brincando comigo? Como alguém não volta para casa a noite e também não avisa a esposa que não vai voltar?”, eu disse.
– “Nunca fale comigo desse jeito”, disse ele.
Nas três semanas seguintes, meu marido não me disse nada. Ele coabitou comigo sem sequer uma palavra entre nós. Não houve nem mesmo um pragmático “Você pode passar o sal?”.
Embora estivesse confusa, achei que tinha me casado com um homem aparentemente tranquilo.
Namoramos por quase seis anos antes de nos casarmos. Nunca testemunhei essa frieza arrogante. Eu estava com um homem que parecia tudo, menos controlador.
Mas agora eu morava com um homem que alternava entre o descontraído e o intoleravelmente difícil.
Na época, eu não entendia o que significava ser um narcisista e ainda não tinha ouvido o diagnóstico de narcisismo oculto do meu marido.
Um ciclo perturbador e controlador começou a surgir em meu casamento.
Enquanto eu permanecesse fora do caminho dele, haveria paz. Se eu o incomodasse, haveria um preço a pagar. Se eu exigisse alguma coisa dele ou o criticasse por qualquer coisa, as coisas não terminaria bem.
Mas, após algum tempo, ele induziu lágrimas implacáveis. Foi uma onda violenta de lágrimas até que meu rosto ficou coberto de vergões.
Eu nunca chorei enquanto namorava um homem aparentemente tranquilo, mas agora chorava em um padrão cíclico. Afinal, estava casada com um narcisista oculto e comecei a assimilar meu papel de esposa.
Os narcisistas ocultos não se apresentam como narcisistas e não parecem controladores. Por outro lado, eles são controladores passivo-agressivos. Uma forma sorrateira de controle que envolve ainda mais manipulação.
Eles infligem e mantém seu controle de forma menos óbvia.
Finalmente entendi como manter a paz. Não haveria conflito se eu não atrapalhasse, pedisse que algo fosse feito, precisasse de algo ou exigisse alguma coisa.
Contanto que eu não interferisse em seu trabalho, em suas prioridades ou em qualquer coisa de que ele discordasse, tudo ficaria bem.
Mas às vezes eu não conseguia evitar o conflito.
Eu precisava ser buscada no hospital quando nosso filho nasceu. Foi quando ele me lembrou que estava no controle e não foi me buscar.
Tive de pintar a sala de estar e de jantar, sozinha, com um bebê amarrado ao peito porque ele se recusou a ajudar.
Ele arruinou meu aniversário, o Dia das Mães e o Natal porque sabia que isso era importante para mim. Ele chegou atrasado em eventos importantes que eu havia planejado apenas para mostrar que eu não o controlava, e que era um homem ocupado. Ele saiu em viagens de trabalho por uma semana e nunca ligou para casa.
Chorei quando perdi minha mãe e o narcisista oculto adormeceu profundamente ao meu lado.
Não importava se era um dia normal ou importante. O narcisista oculto sempre me lembraria que ele estava no comando e era melhor eu não causar muitos problemas.
Eu me sentia louca e confusa e sabia que havia algo antinatural em meu marido.
Ele me pediu para largar meu emprego e ajudá-lo a desenvolver um negócio. Ele me pediu para me mudar depois que eu disse que não queria deixar minha família.
Ele pressionou por um casamento quando eu queria investir em uma casa. Ele queria uma casa quando eu queria um bangalô antigo e charmoso.
Ele se recusou a me deixar ter um gato ou um cachorro até que tivéssemos filhos.
Não importava qual fosse a decisão principal, ele sempre a controlava.
Fui ignorada e negligenciada por um narcisista oculto. Servi a um propósito na imagem de vida que ele estava construindo.
Eu era casada com um homem que não faria nada que não quisesse. E ele não me deixou fazer nada com que não concordasse.
Quando nosso casamento começou a fracassar, meu marido, o narcisista oculto, disse repetidamente uma coisa para mim:
– “Tudo vai ficar bem quando você voltar a ser quem sempre foi.”
– “Não vai acontecer”, eu disse.
O comentário do meu marido foi revelador. Felizmente, o narcisista oculto não conseguia mais me controlar.
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