O amor em indivíduos com transtorno de personalidade borderline (TPB) é intenso, caótico e, muitas vezes, mal compreendido por parceiros e familiares. Diferente das expressões afetivas convencionais, as manifestações de carinho por quem tem TPB frequentemente desafiam padrões tradicionais de afeto, causando confusão e até dor em quem convive com essas pessoas. No entanto, é possível identificar indícios claros de afeto genuíno se soubermos onde e como observar.
1. Te idealizar como pessoa favorita
Um dos comportamentos amorosos mais típicos em indivíduos com TPB é a idealização intensa da “pessoa favorita”. Essa é uma figura central, que representa segurança, amor incondicional e pertencimento. No início do vínculo, ela é colocada num pedestal, com declarações de afeto intensas e uma necessidade constante de proximidade.
Essa idealização, segundo o DSM (APA, 2014), está diretamente ligada à instabilidade de autoimagem e medo de abandono. Quando um borderline ama de verdade, ele expressa isso por meio de comportamentos de apego intensos, como mensagens frequentes, pedidos constantes de atenção e tentativas de fusão emocional.
Embora esse comportamento seja sufocante, ele carrega em si uma genuína busca por conexão.
Um exemplo fictício pode ilustrar essa dinâmica: Juliana, 27 anos, diagnosticada com TPB, conheceu Rafael em uma aula de ioga. Após poucas semanas, ela passou a chamá-lo de “alma gêmea”, enviava mensagens de bom dia, boa noite e dizia não conseguir imaginar a vida sem ele. Embora isso pareça exagerado, essa é uma manifestação autêntica do amor borderline, carregada de intensidade emocional.
Entretanto, é necessário ponderar: será que essa idealização é sustentável? O quanto ela depende da percepção real da outra pessoa ou apenas de suas expectativas emocionais? Refletir sobre isso é essencial para não se perder na instabilidade típica do transtorno e, assim, aprender a administrar crises emocionais e fortalecer vínculos afetivos com mais consciência.
2. Medo intenso de te perder
Outra forte expressão de afeto nos indivíduos com TPB é o pavor do abandono, mesmo que imaginado. Ele se manifesta por meio de comportamentos controladores, ciúmes exacerbado e crises emocionais diante de pequenas ausências. Por trás dessas atitudes, existe um forte desejo de preservar o vínculo com a pessoa amada.
De acordo com o DSM, esse é um dos critérios diagnósticos centrais do transtorno. Em momentos de maior instabilidade, o borderline age impulsivamente para evitar a perda – o que inclui ligações desesperadas, tentativas de contato intenso ou até autolesões.
Para muitos, esses atos parecem desproporcionais, mas são evidências de sentimentos amorosos em indivíduos com TPB.
Assim, quem convive com pessoas com TPB deve se perguntar: como posso apoiar sem ceder ao controle? Como estabelecer limites saudáveis sem reforçar o medo do abandono? Responder a essas questões é crucial para apaziguar crises e estabilizar relacionamentos sem anular a individualidade de nenhum dos envolvidos.
Leia também:
3. Oscilar entre idealização e desvalorização
Um dos comportamentos afetivos mais dolorosos em relações com indivíduos borderline é a alternância abrupta entre a idealização e a desvalorização da pessoa favorita. Hoje você é tudo, amanhã será visto como alguém que não se importa. Essa flutuação reflete a fragilidade emocional do borderline e seu medo constante de não ser amado.
Esse padrão está descrito no DSM como um critério claro de TPB: “padrões de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos”. Quando ama, o indivíduo borderline quer estar próximo o tempo todo; porém, ao menor sinal de ameaça, entra em modo de defesa emocional e reage com raiva ou frieza.
Um caso clínico exemplificativo: Camila, 24 anos, ama profundamente sua irmã Clara, mas após Clara recusar um convite para sair, Camila rompe contato por dias, afirmando se sentir abandonada. Mais tarde, ao refletir, retorna cheia de culpa e amor. Essa oscilação, embora desgastante, é uma manifestação de amor no transtorno borderline, expressa de forma desorganizada.
Então, fica o convite à reflexão: você consegue identificar quando essas flutuações emocionais não têm relação direta com suas atitudes? Você está preparado para ajudar alguém a regular suas emoções sem se perder nesse vai e vem afetivo?
4. Fazer autossacrifícios como forma de amor
Embora não seja universal, muitas pessoas com TPB manifestam amor por meio do autossacrifício. Elas se colocam em segundo plano, fazem tudo pela pessoa favorita e muitas vezes ignoram seus próprios limites em nome da relação. Essa forma de amar parece altruísta, mas esconde uma necessidade profunda de aceitação e pertencimento.
Essa característica é vista como um tipo de “fusão emocional”, onde o bem-estar do outro se torna o único objetivo. Quando um borderline ama de verdade, ele tende a se entregar por completo, muitas vezes à custa de sua estabilidade emocional e física. Isso inclui deixar de dormir, trabalhar ou se alimentar, desde que o outro esteja bem.
Aqui surge um dilema psicoterapêutico: o quanto você permite esse sacrifício? Será que aceitar esse amor incondicional é ajudar ou reforçar padrões destrutivos? Reconhecer essas expressões afetivas de pessoas com personalidade borderline é o primeiro passo para libertar-se de padrões tóxicos e construir relações mais equilibradas.
5. Intensa comunicação emocional
As expressões de amor no TPB costumam ser dramáticas, intensas e muitas vezes poéticas. Textos longos, declarações de amor exageradas, mudanças bruscas de tom emocional em conversas: tudo isso faz parte do repertório comunicacional de quem vive com esse transtorno.
São sintomas de amor em pessoas com transtorno de personalidade borderline, que sentem profundamente, mas têm dificuldades em regular suas emoções.
O DSM menciona essa intensidade afetiva como parte da instabilidade emocional característica do TPB. É comum que esses indivíduos demonstrem um envolvimento afetivo exagerado, verbalizem sentimentos de forma crua e até usem metáforas para se expressar.
Está gostando do conteúdo? Dê o primeiro passo em direção ao seu bem-estar emocional
O problema é que, muitas vezes, essa forma de se comunicar é mal interpretada por quem recebe.
A pergunta que fica: você está preparado para interpretar essas palavras além da superfície? Consegue enxergar o amor que existe por trás da intensidade emocional? Ao conseguir isso, você poderá fortalecer vínculos afetivos e cultivar uma relação mais compassiva e consciente.
6. Comportamentos autodestrutivos como clamor por amor
Por fim, um dos sinais mais complexos e desafiadores de amor no TPB é o comportamento autodestrutivo. Cortes, ingestão de substâncias, compulsões ou isolamento extremo são formas desesperadas de expressar dor e buscar atenção da pessoa favorita. Embora seja um tema delicado, é crucial entendê-lo dentro da lógica afetiva do transtorno.
De acordo com o DSM, comportamentos autolesivos são frequentemente utilizados como estratégia de regulação emocional em borderlines. Muitas vezes, o sofrimento é externado como uma tentativa de evitar o abandono ou de comunicar o quanto o outro é importante.
Voltando ao caso de Camila, após um término repentino com sua pessoa favorita borderline, ela se mutila levemente e posta nas redes sociais frases ambíguas. Embora pareça manipulação, na verdade, trata-se de um pedido de socorro, uma forma disfuncional de dizer “eu preciso de você”.
Diante disso, é essencial refletir: como responder com empatia sem validar comportamentos destrutivos? Como oferecer suporte sem assumir responsabilidades indevidas? Esses dilemas éticos são comuns em psicoterapia, e é vital buscar ajuda especializada, avaliar sintomas e investir em saúde mental de maneira contínua.
Palavras Finais
Compreender as manifestações de amor no Transtorno de Personalidade Borderline não é tarefa simples, mas é fundamental para preservar e fortalecer os laços afetivos. Ao reconhecer a idealização, o medo de abandono, o autossacrifício e a intensidade emocional como indicadores de amor em pessoas com TPB, abrimos caminho para relações mais conscientes e saudáveis.
É importante lembrar que, embora esses comportamentos pareçam disfuncionais à primeira vista, eles são expressões legítimas de afeto de alguém que vive com um sofrimento emocional intenso.
Por isso, o primeiro passo para lidar com esses sinais é buscar tratamento, iniciar psicoterapia e consultar especialistas capacitados para orientar o processo de reconstrução dos vínculos.
Se você convive com alguém que apresenta essas expressões afetivas, não hesite em marcar sessão, solicitar avaliação ou ingressar em programa de tratamento especializado. O amor no transtorno borderline pode ser transformador – desde que guiado pelo acolhimento, pela responsabilidade e por estratégias terapêuticas eficazes.
Referências
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Deixe um comentário